Sete medidas testadas e aprovadas (será???)

A revista Veja publicou, em sua edição de 18 de junho deste ano, uma matéria sobre a educação brasileira, porém sob o olhar de uma pesquisadora chamada Mona Mourshed, egípcia, doutora em desenvolvimento econômico pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e estudiosa das reformas educacionais em dezenas de países. Falar de educação no Brasil é um assunto complicado. Porém uma egípcia, doutora em DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, vir falar da educação brasileira sem saber realmente do que está falando é mais complicado ainda. Essa tal doutora fez lá suas pesquisas e chegou a algumas conclusões, um tanto quanto contestáveis. Por exemplo, um trecho da matéria que diz respeito à formação dos professores: "Poucos fatores influenciam tanto a qualidade do ensino em um país quanto o nível de seus professores – daí a relevância de recrutar os mais talentosos. Foi com esse objetivo que países como Coréia do Sul e Finlândia criaram seleções tão rigorosas quanto as de uma grande empresa. A triagem começa na escola. Só podem concorrer a uma vaga nas faculdades de educação aqueles 10% com o melhor boletim, dado especialmente espantoso diante da realidade de países como o Brasil: os professores brasileiros compõem justamente a turma dos 30% com as piores notas". De onde ela tirou esses "30%"? Eu faço o curso de pedagogia e não me encontro nessa turma com as piores notas, e tenho muitos colegas de sala extremamente inteligentes, com o pensamento crítico aguçado e realmente interessados com a educação. Volto a perguntar: de onde ela tirou esses "30%"???
Outra coisa que me incomodou demais foi a posição da revista Veja em um outro trecho. Uma revista brasileira, que deveria ser mais sensata em suas colocações, e não simplesmente bater palmas para uma pesquisa feita (por alto) por uma pessoa de fora. Eis o trecho: "São justamente os países de mau ensino, como o Brasil, que mais precisam dos currículos, e eles devem ser prescritivos. Só é recomendado que se tornem mais flexíveis quando o país já tiver enraizado a cultura do bom ensino, o que não é o caso do Brasil". A tal doutora sugere que algumas medidas "testadas e aprovadas" em alguns países sejam aplicadas aqui no Brasil, só que ela não levou em consideração que o Brasil não é como a Finlândia, Cingapura ou a Coréia do Sul. O Brasil não é um país, mas sim vários países dentro de um só. A educação no Brasil tem toda uma história, que vem desde a colonização, e tem toda uma cultura a ser analisada. Não dá pra pegar um currículo pronto e fazer descer goela abaixo. Não é assim que as coisas funcionam.
Ela sugere ainda que os diretores das escolas façam um MBA: "Enquanto em nações que aparecem na rabeira dos rankings, como o Brasil, os diretores ainda tomam decisões com base na intuição, naquelas que estão no topo eles só podem ocupar o cargo depois de passar por uma espécie de MBA. (...) É assim em Cingapura, país que levou às últimas conseqüências o treinamento de diretores na iniciativa privada. Ninguém lá é empossado sem antes se internar numa multinacional, entre as quais HP e IBM, e provar, por meio de avaliações, ter aprendido a traçar metas, cobrar resultados e estimular uma equipe". Vamos imaginar a situação: profissionais da rede pública que trabalham arduamente para ganhar um salário que não condiz com a realidade e, muitas vezes, sem boas condições de trabalho, fazendo uma espécie de MBA para lidarem com professores desmotivados pelos péssimos salários e falta de incentivo do governo, e seus alunos, onde a maioria é da periferia e estão lá para ganhar a Bolsa Escola ou fazer uma refeição melhor no dia, que é a merenda escolar. Infelizmente a nossa realidade é essa.
Eu concordo que a educação brasileira está longe de ser um exemplo a ser seguido, que precisa melhorar, que precisa ser reformulada, mas o que essa doutora fez foi no mínimo desrespeitoso ao falar de forma tão negativa da nossa educação. E a revista Veja apoiou e assinou embaixo dessas coisas todas que uma estrangeira disse de forma tão pejorativa em relação ao nosso país. Para se fazer uma pesquisa realmente verdadeira sobre a educação brasileira é preciso viver a realidade das nossas escolas, dos nossos alunos, dos nossos professores, do nosso governo, da sociedade de modo geral. E isso não é assim tão fácil.
Infelizmente, muitos brasileiros apaludem quando o Brasil é diminuído lá fora, achando que o modelo pra tudo deve ser tirado de países desenvolvidos, que o Brasil não é capaz de resolver suas próprias questões e está sempre no caminho errado. Isso é realmente "uma vergonha".

Confira a matéria na íntegra: http://veja.abril.com.br/180608/p_128.shtml

1 recados:

  Anônimo

sexta-feira, agosto 29, 2008

Concordo com vc em sua crítica. A revista Veja adora fazer esse tipo de coisa...